27 de fevereiro de 2014

Control Três

Levanto-me e começo a notar frente a circuitos queimados, conexões desfeitas, almas vazias, a realidade em sua totalidade replicativa: sou apenas mais um amontoado cromossômico, um agregado de átomos orgânicos formandos sistemas que as outras replicas humanas, chamam no auge de sua fantasia de ser vivo... Ser vivo? Eu não sou um ser vivo... Você não é um ser vivo e isso ocorre pelo ser vivo não existir, ser apenas uma normatização trágica de outras réplicas... Vivemos em nosso fantasioso circulo relacional, chamado de ambiente social, buscando incessantemente outras réplicas que notem seus defeitos e sua épica efemeridade, talvez eu seja um ser como dizem por notar isso, ou por me enganar de maneira mais tênue frente ao que chamam cordialmente de viver, olhando em reflexo não acho as notas que compõem a especificidade de um ser: impressões, expressões, emoções e ações parecem ser simplesmente palavras vazias jogadas no vento e sem nenhum sentido... Talvez muito mais sentido tenha o vento em sua leveza áurea, se desapegando de todas as ligações que possa realizar, sendo apenas uma brisa passageira de um ciclo sem fim. Dou passos a frente fora da minha cápsula e vejo o desastroso mundo de caos, crueldade, maldade e fatalidade a que a realidade foi submetida, isso por ações de outras replicas que ao se autodenominarem únicas, especiais, acabaram por mergulhar num mundo de egocentrismo e esquecendo o eterno retorno de suas ações, sou tão replica quanto esses, ainda sendo a replica de número mil quinhentos e oitenta e seis da linha de montagem nove, sou tão podre, medíocre, pérfido e insensível quanto eles, ou talvez não, já que sou uma replica de uma linha de montagem não atualizada, talvez nosso pacote de informações se feche e se restrinja nessa postura seca e pálida, nada mais que isso, mas ao ver tudo isso, sinto pena e acabo por permitir que minha alma ( ou meu sistema operacional ), ecoe em uma lagrima binária, num clamor desesperado pela mudança. A única coisa constante. Sou uma replica como você leitor, ou o motorista do ônibus que falou mal do tempo, ou o empresário que não cumprimentou o mendigo na rua que apenas queria um abraço... Talvez esse mendigo seja o anormal de tudo isso... Não pela fuga da normatização econômica, mas pela escapada do código operacional dos moldes replicativos, uma nova linha de montagem? Um erro que virou acerto, como tantas coisas da ciência? Não sei, não consigo alcançar essa resposta, mas sinto que meus processadores mentalmente biológicos, acabam por gostar dessa pergunta... Dessas perguntas. Acabo por descobrir um erro em meu próprio código mestre? Não fui programado para isso, não fui instruído para pensar... Não faz parte do meu código. Termino sendo uma réplica, pois noto que mesmo com esse erro, devo de encontrar outras replicas, sujas , descartadas, quebradas e desencorajadas, com o mesmo erro que o meu, já não importa se mergulho no oceano da ignorância ou se me mantenho na tênue linha da consciência ( cuja a qual já deve ter me ceifado milhares de vezes, isto se , e somente se, nela eu ainda estiver ou algum dia ter ido). Talvez esse pequeno furo que se abriu na linha de produção acabe por mostrar a realidade sem sentido, verdadeira e dançante como os olhos de uma réplica recém parida. Mas não posso afirmar nada, só posso falar do que não é certo, que até nesse caso é passível de analise minuciosa, pois o certo é relativo. Mas sou uma réplica, sou apenas um numero a mais.

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