29 de junho de 2014

Solidão então

Hoje eu resolvi parar para pensar sobre solidão. Alguns dias eu acordo pensando praticamente na mesma proporção que quando fui dormir. É um ritual contínuo seja de dia ou de noite eu gosto de ficar 30~40 minutos olhando pro nada. Gosto de ficar vendo as partículas de poeira sendo refletidas pela luz do sol, por algum motivo isso me faz lembrar a humanidade: tão minúscula mas com um ar de superioridade tão inacreditável. Já à noite eu gosto da sensação do meu olho se adaptando a escuridão, e revelando a mesma paisagem cotidiana, mas sem luz. Isso me desperta linhas de pensamentos que eu jamais imaginei que pudesse despertar.

Em alguns casos também gosto de música, desta vez, uma melodia calma e se possível sem letra: para que eu possa me concentrar apenas ao som e a interpretação do ambiente. Tudo isso ocorre dentro da minha casa, mas sempre parece que eu estou viajando. Deve ser pelo fato de que eu não me atenha a ver as coisas da maneira comum.

Após entrar nesse estado pensativo eu reflito sobre varias coisas, às vezes recito textos que nunca me recordo e me deixo levar pelo sonhar acordado de universos alternativos em que eu talvez pudesse levar da mesma maneira uma vida completamente diferente, ou melhor, de outra maneira a mesma vida que possuo.

Resolvi pensar sobre uma coisa que sempre me afligiu: A solidão. Em todas as vezes que eu me encontrava só eu entrava em pânico. Eu não suportava a ideia de não ter com quem conversar, com quem interagir e talvez com isso eu começasse a falar com as paredes, imaginar inexistências e enlouquecer. Tudo recaia nisso: eu tinha medo de enlouquecer. Por causa disso eu sempre pedi um pouco mais de tempo e as vezes eu me deslocava a ficar em ambiente que eu nem sequer gostava, por não havia algo que odiasse mais do que encarar a mim mesmo e isso só é proporcionado com a solidão. Inventar conversas, coisas ou fatos quando se está só provem talvez justamente de uma fuga da minha cabeça de mim mesmo. O que será que me assustava tanto em mim mesmo? Bem eu era uma farsa e talvez eu ainda seja.

Eu costumava aceitar o que as pessoas com poder sobre mim mandavam sem reclamar, sem hesitar, mas tudo isso por fora. Eu nunca fui alienado de nada, nunca fui bobo com coisa alguma, eu fingia que era pra aceitar muitas coisas mais facilmente, eu queria ser aceito e deixei de me aceitar por isso. Com tantas vozes externas falando eu comecei a esquecer a minha própria voz e quando eu falava comigo eu estranhava a minha própria postura, como se várias pessoas existissem dentro de mim. Foi em fazer uma coisa, mas querer fazer outra que eu fui levando a vida. Foi em falar sim senhor quando todo o meu cerne gritava pelo não que eu fui “vivendo” ou ao menos achando que estava, e quando eu percebia que eu gritava esse não foi que eu fui temendo a mim mesmo.

Eis que fatores externos começaram a pesar em mim, com tanta coisa sendo feita aquela cúpula de cristal estava rachando, com a mesma intensidade de um vidro temperado de um carro após uma pedrada. Eu estava virando um monstro. Não estou virando um monstro! Não, eu só estou assumindo o verdadeiro eu.

Isso me fazia sofrer eu não queria que vissem meus defeitos, que notassem meus momentos irracionais e que principalmente quebrassem a imagem que tem de mim e a imagem que eu tenho do que os outros têm de mim. Sendo essa última uma verdadeira lamina que cortava e ainda corta muitas vezes, a minha auto-estima.

Mas um dia, vi que ia surtar ali, na frente de todo mundo, e sai... Fui pensar e ficar só. Eu queria acima de tudo estar só. E comecei a ficar mais calado, comecei a perceber mais as coisas, a pensar mais no que falar e no que pediam para mim. E nisso eu comecei a gostar de mim. A me dar um tempo. A aceitar que eu não sou um monstro tão diferente do mesmo monstro que é você leitor, ou seus amigos, meus amigos, a humanidade.

Comecei a notar que eu estava melhorando, quando algumas pessoas elogiavam-me. Eu fui criado a elogios serem tão funcionais quanto gotas d’água num incêndio, mas mesmo que isso não me engrandecesse (e ainda não engrandece), eu via que eu parecia estar melhor, já que até os defeitos que eu achava exclusivo em mim eu notava que quase todo mundo tem. Eu parecia estar melhor em ver que eu não sou um caso isolado e sim um caso que se isolou.

Agora a solidão parece ser não mais uma pessoa, mas um momento. E um momento agradável. Estar só parece tão bom quanto estar acompanhado. E agora mesmo que esteja só em meio a muita gente eu não estou mal, eu simplesmente sei lidar com a situação. Ainda mais quando notei o que algumas pessoas não notam: Em grande parte do tempo não temos, família, amigos, amores. Temos apenas a nós mesmos e terminaremos assim... Sozinhos.

Mas o que me leva a esse pensar sobre as coisas nesse momento se parece estar tudo bem? Na verdade não está tão bem assim, eu pisei no freio com muita força, eu peguei leve demais, está de um ponto que parece que retrocedi a quando dizia sim senhor. E algumas pessoas não podem ouvir muito sim, elas se acostumam, elas tomam que você sempre via responder sim.

Por isso eu resolvi sumir do mapa por um tempo, não que eu esteja contra cada ser da face da Terra, mas é que é necessário que eu me afaste tanto dos que me fazem bem quanto dos que me fazem mal. É necessário que eu me redefina, que eu me reinvente, que eu me desconstrua e me reconstrua de novo.

Não sei dizer o que vai ser produzido disso tudo: talvez alguém note que eu esteja diferente, talvez eu mesmo perceba que nada mudou, talvez todos ajam como se nada tivesse sido diferente ou talvez uma exceção a tudo isso, de forma que surpreenda a você na mesma proporção que me surpreenda.

Mas sem duvida nenhuma eu já trato a solidão como minha amiga, não como adversária e gostaria que todos soubessem o quanto é bom ter um tempo consigo mesmo. E você andarilho, como você trata a solidão? Como você trata a sua solidão?

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