22 de dezembro de 2014

Matemática: A língua inexata

 Não tá entendendo? Continue lendo :)

 Esta semana da matemática tem algumas coisinhas diferentes a serem feitas, primeiro por ser a última semana de postagens do ano, tenho que fazer algo mais refinado e segundo por que o plano dela foi alterado nos últimos momentos.

Antes de tudo, eu gostaria de falar sobre como esse blog funciona em específico. Assim que terminam as três semanas que eu escolho pro blog eu converso com amigos próximos, busco informação na internet, vejo o que está rolando por ai e crio as temáticas principais para as três semanas seguintes. O resto das coisas parte de pesquisas diárias e muitas vezes nas vésperas da matéria ser posta. Desta vez eu estava pensando na semana da matemática explicar o relacionamento de área e passar para todos vocês a ideia de integração. Entretanto pude graças ao meu grande amigo-irmão, perceber que isto não seria uma boa ideia.

Explicar a ideia avançada de integração não é o meu alvo aqui. O que eu quero é disseminar a ciência de maneira atrativa e descomplicada. O que aconteceu é que a mecanização do meu curso (Matemática Industrial – UFC) subiu a minha cabeça e acabei por adentrar a falar de um assunto não muito recomendado para o público que quero atingir. Depois de debruçar-me no pensamento de desespero por não ter nada para vocês andarilhos, acabei por cogitar a hipótese de falar de um assunto bem delicado, a estruturação da matemática.




A primeira coisa que eu queria desmitificar é o aspecto de exata. A matemática não é exata há muito tempo e sinceramente nem sei dizer se ela algum dia foi. As teses mais brutas da nossa matemática acabam apenas por confirmar a noção de que todo o nosso império friamente calculista é sustentado por pilares de barro chulo. Por que a soma é como é? E por que 1+1 é igual a dois? Se eu somar uma gota de água a outra não terei duas gotas e sim uma gota maior. Somar é a conceituação mais básica da matemática e se ela é construída com tanta leveza na sua elucidação, todo o resto depende dela para continuar com todo vigor. Do contrário seria como assoprar um castelo de cartas. Não há escapatória para moldar a matemática como um formalismo concreto, se você tem essa visão dessa ciência Inexata, você de fato ainda não a estudou.

Bhaskara não entende o porquê de tanto ódio...

Outro fator agravante: Somos forçados a aprender técnicas matemáticas e não matemática em si. Simplesmente engolimos na nossa vida toda milhares de formulas sem nenhuma aplicação visível e que muitas vezes traumatizam pessoas que cogitaram em estudar tal ciência. Faço faculdade e digo: Nunca usei bhaskara na faculdade, acho raízes por derivação.

Educação nas escolas atuais? Another brick in the wall...

Isso porque não nos ensinam a pensar matematicamente e sim a ser um técnico em matemática... Algo completamente desconfortável e desestimulante, visto que isso ocasiona num pensamento extremamente fechado dessa área do conhecimento.

O pi é infinito e você acha que tudo é definido?

Outro fator que mostra a inexatidão da matemática é aquele camarada que você deve não gostar muito ou apenas chamar de três virgula quatorze. O pi é um número irracional, ou seja, apresenta INFINITOS DÍGITOS. Como posso chamar qualquer operação matemática que usa uma coisa imprecisa (pois não se tem completude) de exata? Todas as constantes da física partem daí também, algumas como disse uma professora minha, são tapa buracos matemáticos, com o intuito de fazer os números se aproximarem da realidade. Mas existe algo mais inexato que a própria realidade? Se existe um fato ocorrendo agora, nada impede que outro completamente diferente ocorra no próximo segundo, isso é estudado na física, mas também na estatística uma ciência interpretativa da matemática. Passeio aleatório ou andar do bêbado. Ainda estamos falando da inexatidão matemática.

Outra escapatória seria arredondar, ai você estaria assumindo que o valor de pi não é o infinito e sim 3,14. E acredite esses números deixados para trás podem fazer uma diferença crucial para a realidade. Da mesma forma que por poucos centímetros você pode escapar de uma bala perdida...

Um professor da faculdade me disse numa entrevista para uma bolsa, que contar cavalos, ou pedras, eram a mesma coisa. O que acontece é que simplesmente esse senhor está defasado em suas afirmações...contar números não tem valor nenhum, mas você não pode construir um castelo de pedra com a exata quantidade de cavalos que possui. Logo contar uma coisa ou outra tem diferença!

Passando para outra abordagem, um grande problema na mente da maioria das pessoas que lidam com a matemática é tratá-la como “ciência” na visão deturpada que fazem muitos pensarem em ciências humanas e exatas (aliás isso é coisa de gente doente ou pobre de conhecimento, o termo humanas parece dizer que exatas são ciências de não humanos, de monstros ou de uma camada isolada da sociedade, isto é, se ainda o for).


Veja bem, uma língua (no quesito comunicacional) é um conjunto de códigos que juntos transmitem uma informação. Temos como exemplo mais próximo a língua que estou empregando nesse texto, o português. Assim sendo tenho que em 21 consoantes e 5 vogais empregar toda e qualquer ideia. Ainda que eu crie palavras novas como Sensaciontástico (uma coisa sensacional um contexto fantástico, como dar um mortal para pegar tampa da panela pegando fogo), eu estou usando as mesmas letrinhas que o padrão qualifica.

Veja que todas as operações que temos na matemática são definidas há muito tempo: soma, subtração, multiplicação e divisão. Qualquer coisa depois disso é uma nova forma de olhar um desses elementos. Logo qualquer conta que eu fizer estará usando esses elementos ainda que seja para calcular a distância a uma estrela ainda não catalogada.

Veja ainda essas frases:

Ele morreu com 2 tiros.

Ele morreu com 15 tiros.

Certamente você não leu as duas e pensou da mesma forma, você pode achar que a primeira foi um crime acidental até, mas na segunda você já pode suspeitar que foi uma morte premeditada com alto requinte de crueldade. Você pode também pensar que a arma que atirou o sujeito da primeira frase é diferente da segunda ou que os locais alvejados foram diferentes. Mas eu não disse nada disso. Eu só aumentei o número em 13 unidades. Eu nem sequer alterei o resto da frase, mas o número já expôs uma visão completamente diferente da mesma.

Percebe como a matemática tem a função de transmitir ideia? Um matemático de verdade deve perceber não só os números, mas o contexto em que eles estão envolvidos. Não basta calcular, é necessário conversar com os números e ver o que cada um diz. Matemática meus caros é uma língua e não um sistema frio e padronizado de alguma coisa. Além de ser importante na vida de cada um essa forma de conhecimento é muito mais do que apenas um mero conjunto de técnicas.


Matemática é, portanto, uma língua inexata. Tão humana quanto qualquer outra..

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