3 de julho de 2015

Os mestres do disfarce



Depois de um final de semestre corrido e da comemoração da volta do meu acesso à internet, voltamos (ou melhor, voltei) e nesse meio tempo fiquei pensando em temas para o Usina, o que falar, o que seria interessante e inovador? Me lembrei dessa era de Drones que estamos vivendo e aproveitando o embalo percebi o quanto esses robôs são discretos e praticamente imperceptíveis no vôo a noite, fiquei tentado então a ver mais sobre a mecânica deles mas acabei focando minha atenção em como eles passam desapercebidos... Se algo assim pode ser feitos por nossas mãos, será que a natureza também não tem seus truques para passar despercebida por nós? Ou por nos pegar desprevenidos?

A resposta é sim! A Natureza é uma artista implacável e mestra dos disfarces, pensando nisso vamos falar sobre a camuflagem, o aposematismo e o mimetismo.

Antes de tudo é preciso mostrar que os animais fazem mudanças na aparência por muitos motivos, não só para fuga. É bem verdade que aqueles que ficam parecidos com o ambiente querem se disfarçar entre ele, mas outros podem chegar a mudar de aspecto para parecerem ainda mais perigosos do que são. Alguns mudam de aparência quando querem, outros tem o corpo já construído como um grande disfarce.

Provavelmente o animal que você mais recorda como mestre dos disfarces é o camaleão, um dos casos mais evidentes de disfarce. Este é capaz alterar suas colorações de pele. Diferentes espécies de camaleão são capazes de variar a sua coloração e padrão por meio de combinações de rosa, azul, vermelho, laranja, verde, preto, marrom, azul claro, amarelo, turquesa e púrpura. (segundo a Wikipédia).

Aqui de boas pegando umas cores :P

Os camaleões ainda usam as cores de acordo com o seu temperamento, ficando mais escuros quando estão irritados e mais claros quando querem cortejar as fêmeas. O mecanismos que proporcionam aos leões da terra são extremamente complexos, mas teoricamente simples de serem entendidos: Os camaleões têm duas camadas sobrepostas, dentro de sua pele, que controlam a sua cor e a regulação de calor.

A camada superior contém uma estrutura de nanocristais de guanina entre elas há um espaço que podem ser manipulado de acordo com a vontade do bicho, afetando a reflexão e absorção das ondas de luz que incidem sobre ele. Ao agir nesses cristais há um aumento na distância o que proporciona a mudança para tons mais longos (que equivalem a comprimento de ondas mais longas ou seja, o azul,o roxo o verde e um pouco do amarelo) , em estado relaxado há pouca distância o que proporciona a reflexão dos tons detentores de menor comprimento de onda (os vermelhos, grande parte dos amarelos e os alaranjados.

Explicado o contexto do animal ícone das mudanças e disfarces, vejamos então as divisões entre os tipos de relações ecológicas citados.

CAMUFLAGEM

A camuflagem é o conjunto de técnicas e métodos que permitem a um dado organismo ou objeto permanecer indistinto do ambiente que o cerca. É visivelmente um resultado da seleção natural, pois aqueles que apareciam mais eram caçados enquanto os que se escondiam perpetuaram a espécie.

Pode ser de dois tipos, a homocromia (quando as cores do animal se misturam no ambiente) como os veados, corujas e etc. e a homotipia (quando o corpo do animal se confunde com o ambiente) como o bicho-de-pau e algumas lagartas.

A camuflagem tem como objetivo principal, esconder o indivíduo de seu predador, logo ele não desenvolverá nenhuma artimanha que não seja necessária, ou seja, se uma característica inútil for desenvolvida o animal morrerá e isso não se perpetuará na espécie. A camuflagem basicamente é uma alteração na pele do animal que resultará em uma coloração próxima a do ambiente em que se encontra e muitas às vezes não são notadas tão logicamente... Tubarões são cinza-azulados porque esse tom é parecido com a luz solar dentro da água do mar.

Existem duas formas do animal produzir essas cores, uma delas é por uma estrutura chamada bicromo, são pigmentos que produzem as cores quimicamente. A outra é por algum tipo de estrutura microscópica que possa interferir na aparência do animal, é o caso por exemplo do urso polar que torna-se branco através da reflexão de seu pelo translúcido (na verdade a pele do urso polar é preta).

Mas se a maneira como a cor é produzida já é audaciosamente arquitetada, a forma como essa cor pode ser acessada é ainda mais mirabolante, o animal pode mandar impulsos musculares que façam as células de cor se ativarem, pode simplesmente liberar hormônios que se encarregam em reorganizar a produção de pigmento ou pode ter sua cor mudada pelas coisas que come!


APOSEMATISMO

A ideia aqui é exatamente o contrário da camuflagem: são técnicas que permitam o animal ser visto e notado de maneira contrastante no ambiente. Mas por que então ele faria isso? É simples, a maioria desses animais detém algum tipo de veneno e são mortais se ingeridos. Claro que o predador que o comer vai acabar morrendo, mas até isso acontecer o próprio animal já teria sido morto também. Para isso a seleção natural fez com que os animais ganhassem cores vivas e vibrantes. Aquele sapo laranja, aquela lagarta roxa, tudo isso é um mecanismo de defesa.



Com o tempo os predadores passaram a reconhecer os animais coloridos como ameaça e deixaram de consumi-los. Uma ideia genial! Afinal não se imagina que a melhor defesa seja se exibir. A mistura de cores, que parece ter fugido de alguma obra fantástica, é a mais variada possível: vermelho e amarelo; vermelho e preto; vermelho, amarelo e preto; preto e branco ou simplesmente cores vibrantes uniformes por todo o corpo.


MIMETISMO

Se esse nome te lembra mímico (aquele artista que imita gestos) você está mais do que certo! Alguns animais passaram a copiar (com copiar, entenda a seleção natural como ator principal) os aspectos dos animais que praticam o aposematismo. Mesmo sem ter veneno eles se parecem tanto com um animal venenoso e que acabam não sendo atacados.

O mimetismo também pode se usado para parecer maior que o que é ou se disfarçar de um animal completamente diferente: os olhos de coruja que aparecem nas asas de uma mariposa são exatamente isso.



Acima você vê a perigosa cobra coral que possui aposematismo. Seu veneno é extremamente mortal e rápido, fazendo vítimas de forma certeira.



Já esta é uma cobra coral falsa, ela também possui veneno ao contrário do que muitas pessoas falam, mas apresenta dificuldade em usá-lo devido ao tamanho da sua boca, a saída então é se parecer com alguém mais perigoso.

Existe ainda o mimetismo Peckhaminano que é quando uma espécie se mistura a outras parecidas para atacar uma presa.

E nos humanos?

E não são só os animais que usam essas técnicas não, o bicho homem também é adepto a mudanças que alterem sua aparência no meio. É o caso da postura que pode mudar todo o semblante de uma pessoa apenas pelo alinhamento da sua coluna vertebral, que pode dar falsa impressão de alguém maior ou mais presente.

uma cor chamativa numa batalha? péssima ideia

Sem falar nos fins de guerras e lutas... Em campos de batalha militar, é importante matar a equipe inimiga sem ser morto e um exemplo de seleção natural “artificial” ocorreu na guerra Franco-Prussiana onde a equipe francesa perdeu muitos soldados... Motivo? Seu uniforme vermelho que chamava atenção da equipe inimiga, facilitando a visão da vitima.

Nossa polícia usa preto não só para manter a seriedade (embora preto seja associado a morte, o que pode dar um clima de medo) mas também para se camuflar nas operações noturnas.

As técnicas de camuflagem são extremamente úteis na natureza, muitas delas proporcionaram as mudanças que são responsáveis pela fauna que temos atualmente, já no âmbito humano, a camuflagem podem ajudar a fortalecer ainda mais o sistema espionagem, guerras, punição e vigilância.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Confira também: