6 de março de 2014

Decidi

Na sexta passada eu tive uma conversa surpresa com meu irmão...Ele me contou sobre as múltiplas motivações e desmotivações que teve em sua árdua escolha para a filosofia, um campo em que ele anda com grande maestria, me contara sobre isso devido a um desabafo meu sobre  o meu futuro...Porque? Porque eu queria ser cientista.

Dias antes eu havia lido um texto com dez motivos para não se tornar um cientista, grande parte deles abordava decepções financeiras e acerca de não reconhecimento...Geralmente eu não sou abalado por esse tipo de texto, mas meu ser estava tão quebrado, abalado, que o mais leve dos ventos se tornaria um furacão negro, com a força compressivamente destruidora de mil buracos negros supermassivos. Ele ( meu irmão) me aconselhava e dizia que isso era normal por eu não saber o que eu queria para minha vida, algumas lágrimas derramadas e com meus medos expostos, me despedi de meu irmão (Como agradeço sua colossal presença e compreensão meu irmão!) e me pus a estudar o mais cruel dos enigmas, a mais difícil das equações: Minha própria mente!

Envolto de arlequins diabólicos, serpentinas que me enforcavam em sua cegueira, dançarinas que me seduziam a loucura e meus pesadelos....Este fora meu carnaval onde a verdadeira festa era o meu sofrimento áureo.

No primeiro dia eu me desesperei. Não pensava em nada e tentava voltar ao passado para ver como eu me portava, como eu havia parado nessa situação. Eis que me lembrei.

Eu era um garoto tímido que escondia em falsas expressões de humor querendo esconder meu verdadeiro ser, além disso, eu possuía uma baixa auto-estima devido a minha aparência e isso me deixava cada vez mais abalado...Para piorar a situação toda tinha um fantasma em meu passado que voltava rondando por vez ou outra, ele se aliava a minha criação: fui criado com todos os luxos que uma criança de classe pobre sonha em ter se fosse de classe alta, brinquedos, roupas, tudo que se possa imaginar eu tinha, exceto um bem sentimental precioso que eu prefiro contar em outra postagem.

Meu desempenho escolar nunca foi ruim e eu não posso mentir. Nunca cheguei a ficar em recuperação em nenhuma disciplina e tão pouco a reprovar, não era o aluno modelo, mas não era nenhum desinteressado, as séries foram passando mais e mais e já no ensino médio eu me encontrava a beira de um vestibular, mas não tinha consciência de nada disso, eu corria em círculos e parecia nunca perceber isso. Frente a isso eu me lembro da primeira vez que ouvi a opinião de alguém de fora em relação à faculdade:

“Ah você gosta tanto de jogar... Deveria fazer computação...Nerds sempre fazem computação”

Eu nem sequer me achava nerd, mas ser o carinha estranho com óculos e aparelho que não vivia com uma namoradinha e bebia nos fins de semana em casas de forró, me rendia isso. Poxa mas computação parecia legal, por que não?

Passei então a inflar o peito com o mais rarefeito dos ares e dizer: quero fazer computação! Dá dinheiro e eu ainda posso ficar jogando.

O ensino médio era voraz, com disciplinas mais pesadas e com um cursinho à tarde (eu estudava em tese 12 horas por dia) eu só queria passar em computação, mas não sabia por que eu queria querer isso.

No final do segundo ano eu recebo uma bomba: minha rinite alergia evoluira como já esperado e se transformara numa conjuntivite alérgica, logo de inicio eu simplesmente não enxergava nada e todos os tipos de remédios me foram testados ( tenho seqüelas até hoje, e riscos maiores de câncer no futuro devido a eles), mas nada adiantou, para piorar meu olho inchava ( ainda incha, mas em grau muito menor) impossibilitando a visão e enfeiurando-me ainda mais. A melhor de todas as noticias é que me pálpebra estava começando a abrir e como conseqüência eu enfrentava duros sangramentos (hoje em níveis menores), de forma a chorar sangue. Um estudante pré-universitário com o órgão mais necessário prejudicado: a visão.

Aliado a essa saga de doenças eu ainda enfrentava o bullying de alguns “colegas” o que me depreciava ainda mais e só me desmotivava, ainda assim eu enfrentava a dura responsabilidade de entrar numa faculdade  (e que curso eu queria mesmo?) pois bem eu acabei entrando passei em Licenciatura em química no IFCE, mas por greves e pelo meu desinteresse em licenciatura ( na verdade isso vai se tornar um paradoxo mais adiante ), me fizeram estudar mais uma vez com mais calma e persistência, ao procurar outro curso eu encontrei matemática industrial, a grade parecia muito com computação e parecia ser algo inovador, por que não tentar? E me motivei de novo em ares com poucas partículas de oxigênio, iria tentar Matemática industrial. Consegui, entrei.

No segundo dia eu comecei a pensar no quanto eu mudei do inicio do curso até agora.

Desde o início do curso eu pude notar o quanto a liberdade da UFC era prazerosa, vindo de um colégio militar eu sempre tive uma veia revoltada em mim, seja aliada ao rock ou a minha não conformidade em aceitar ordens sem explicação ( chegou-se a tanto que no último ano do colégio eu usava anéis em todos os dedos de ambas as mãos ), na UFC não...Eu poderia ser quem eu quisesse ser, tinha a liberdade de camisa, cabelo grande, e por um tempo me deleitei disso ( que não se lembra da minha trança roxa-vermelha?), mas isso foi uma fase tão simplória que eu mesmo não notei seu cessar. Meu peso diminuía, minha postura mudava e eu simplesmente ia mudando com tudo isso, e as perguntas de matemática industrial ser o que eu queria iam me perturbando cada vez mais: eu sabia que gostava do curso, mas não queria trabalhar numa empresa... Tudo me aparentava tão monótono e repetitivo. Pensei em ser um pesquisador, mas minha família sempre me falava ( e fala):

“E não vai trabalhar não? Vai viver só de estudos?  E o dinheiro?”

Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro!...Se quisesse certeza financeira eu faria um concurso público ou seria um ofical militar como tantos desses meus colegas são, mas isso me faria feliz? Eu tinha que fazer uma coisa com me proporcionasse rios de dinheiro mesmo que não fosse feliz? Não parecia estar vivendo minha triste infância de novo? Cheio de bens materiais e sem nenhuma alegria, que é o que realmente mantém o ser vivo ( já que bens materiais um dia vão embora)?

De segunda para domingo eu não me lembro quantas vezes acordei, mas devo ter fechado os olhos por pouco mais de 2 horas. No resto segui o brilho da escuridão da madrugada.

Na segunda eu já agonizava de sofrimento...Era o terceiro dia e eu ainda tinha muita coisa para analisar, haviam cartas na mesa mas nenhuma jogada em mente. O sono pareceu ter sido roubado de mim, como se Morfeu me tivesse castigado com a insônia como Prometeu fora com o fogo.

Parei e analisei as palavras que me foram ditas pelo meu grandíssimo irmão e pela minha linda Laresca, ainda assim parecia tudo turbulento e eu cheguei a ponto de não me enxergar, me sentir opaco, inútil. Eu havia saído do colégio como 5º melhor aluno de toda a turma, e isso não tinha nada a ser comemorado, eu havia sido promovido a major ( tão forte quanto papel de arroz frente a água) e isso parecia ser apenas um pedido de desculpas de ter sido acusado por certas coisas nas séries anteriores do colégio. Nada faria sentido, por que não findar logo isso? A visão cuestral de minha janela parecia tão mortalmente linda. Era fácil terminar isso ali mesmo, ninguém saberia e nem falta a ninguém eu faria.

Não consegui, agradeci ao medo instintivo que me protegeu de alguma catástrofe.

Eis que na madrugada do terceiro dia eu começava a ver as coisas com maior lucidez:
Por que eu deveria me prender ao passado de não ser um bom aluno? Afinal eu não era um aluno no mínimo tão capaz quanto os outros? Será que aquele lacrimejamento hemofílico de estudos não tinha significado nada? E os elogios que tantos me deram? Alguns viam de pessoas que eu realmente considerava, que eu realmente considero e que agradeço todos os dias ter conhecido, essas me conhecem tão profundamente... Seus elogios não poderiam ser baseados em areia e sal. Lembrei-me das vezes que uma ou duas palavras dos professores me levantavam, de quanto às pessoas se sentiam a vontade para me pedir ajuda. Eu significava alguma coisa... Por mais nulo que tentasse ser, ainda era um valor.

Meus pais me desmotivaram mais uma vez dizendo que eu ia me arrepender:

“Você é novo, quando chegar aos 30 vai perceber que precisa de uma coisa chamava aposentadoria!”

Mas se eu, com vinte anos pensasse em quanto possuir trinta, eu viveria dez anos em congelamento, e logo depois eu já deveria planejar em como vou querer me aposentar? A vida é curta a tal ponto de zerarmos todos os meios e pensarmos apenas em como ela tem que ser no futuro? Esperando que dinheiro compre alegria, vontade, paz? Isso não tem nenhum sentido.

No quarto dia eu comecei a juntar as coisas e perceber o quanto eu sou especial para mim mesmo... Eu não sou o mais culto dos sábios, sei pouco de pouco e talvez por saber que pouco sei, saiba um pouco mais daquele que supõe saber de algo a mais do que realmente sabe.

Eu me lembrava da excitação em ver as cadeiras do curso que eu já estou, foi um fato completamente marcado por aleatoriedades, mas que no final era o que eu tenho vocação em ser ( e para se ter vocação não é preciso tirar dez em todas as notas, é preciso apenas querer tirar dez). Lembrei que algumas pessoas me pedem ajuda e que se eu fui escolhido com um projeto de ajudar pessoas ( ainda considero ensinar uma palavra muito forte) com cálculo I, é por que possuo capacidade pra isso. E sinto uma felicidade enorme em ver que as duvidas são sanadas e que posso progredir com o conteúdo. Se até quem eu considero com o mais culto dos sábios, já disse que aprendeu muita coisa comigo, devo significar alguma coisa.

Eis que chega o quinto e último dia:

Pareço ter renascido ( ou finalmente ter sido parido) para a realidade, quero seguir a carreira acadêmica, pois o momento que eu mais me vejo bem é quanto estou estudando, seja Matemática, Programação, Química, Astronomia ou a mais nova aquisição de meu gostar pessoal: a Filosofia.

Parece que não vou ser um garanhão hexazilhonário ultra mega power blaster rico, mas eu não preciso disso... Eu só quero ter onde dormir, o que comer, uns trocados pra comprar uma bolsa furreca, outros trocados pra comprar xerox de alguns livros, não vou ser hipócrita em dizer que não quero algo um pouco mais caro, mas sei viver muito bem com o pouco que tenho (e que na verdade é muito mais que se imagina), do resto são perolas de pessoas maravilhosas que adentraram em minha vida e que eu não pretendo me desprender nunca mais.

Nesse quinto dia eu pus as ultimas idéias no lugar, e ao encontrar meus pais , respondi isso quando desejaram a conclusão da minha formação para que logo eu fosse trabalhar:

“Olha, eu vou falar de modo que vocês entendam: Eu quero ser um pesquisador, um cientista,por mais bobo que isso possa parecer na cabeça de vocês, poxa! Vocês são meus pais e eu só quero ser eu mesmo, isso é algum delito? Não quero que achem bonito, que aplaudam, que se orgulhem... Quero que respeitem. Eu só quero que vocês me apóiem, e mesmo que não me apóiem, me desculpem mas eu não vou desistir do meu sonho, ainda que eu reprove, que eu tire zeros, que eu chore, que eu grite e esbraveje de ódio, eu não vou desistir deste verdadeiro ducto que liga meu ser material a minha alma”

Eles continuaram falando, mas do contrário de todas as outras vezes, eu não me irritei, eu não me chateei, eu estava ocupado demais para isso, eu tava estudando...

O que eu quero dizer depois desse desabafo, é que você andarilho, não desista do seu sonho e mesmo que pareça não possuir nenhum, siga seu coração. Eu acredito em você ser feliz com seu sonho, demore o tanto que for pra encontrar, não tem problema e isso não te torna anormal. MAS QUANDO ENCONTRAR, NÃO O SOLTE NUNCA MAIS! LEU BEM? NUNCA MAIS!


Eu não sei o que você quer ser... Mas eu quero ser um cientista.

Um comentário:

  1. Tem nem o que comentar... você chegou perto da mesa e pá! kkkkkkk entendeu?

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