28 de fevereiro de 2015

Parasitismo Social



Sexta, 11 de novembro de 2005, 03h00

O que é parasitismo social

Juacy da Silva

Em artigo anterior procurei destacar a origem do parasitismo social e neste gostaria de discutir um pouco o que isto significa e suas conseqüências para a vida social, política e econômica de uma determinada sociedade.

O conceito de parasitismo social tem duas dimensões: de um lado, o pensamento marxista; de outro, a sociobiologia. Para a vertente marxista, parasitismo social é a prática de exploração que a classe capitalista ou burguesa realiza sobre os trabalhadores através do que é denominado de mais valia. Isto é possível quando a primeira se torna proprietária dos meios de produção e os trabalhadores ficam sujeitos a todas as formas já sobejamente conhecidas de exploração.



A vertente que se alicerça na sociobiologia tenta transpor para o domínio das ciências sociais o raciocínio das ciências biológicas e neste sentido, parasitismo é a prática utilizada pelos diversos parasitas, vegetais ou animais. Parasita é, pois, o animal que se alimenta do sangue de outro; ou o vegetal que se nutre da seiva do outro. Transpondo para o âmbito da sociedade, parasita é todo indivíduo que não trabalha e que vive às custas de alguém, seja de uma pessoa, de uma organização ou do Estado.

A lógica que está atrás deste raciocínio é a de que todas as pessoas devem viver às custas dos frutos de seu trabalho, donde se conclui que o trabalho é um direito de todas as pessoas, para poderem produzir, ganhar um salário ou renda decentes e com os resultados deste trabalho poderem comprar bens e serviços de que necessitam para sustentar a si e às suas famílias.

Bem próximo do que é denominado de parasitismo social existe o que é denominado de lúmpen para denominar toda pessoa que não se dedica às atividades socialmente produtivas, vadias e que fazem parte do lumpemproletariado.

De uma forma mais elaborada podemos dizer que o lumpemproletariado é uma camada social carente materialmente falando e sem consciência política, constituída por trabalhadores que vivem na miséria extrema e por indivíduos direta ou indiretamente desvinculados do sistema de produção e que se dedicam a atividades marginais (roubo, assaltos, mendicância ou vivendo de favores).

No Brasil, mesmo que as cifras não sejam coerentes entre si, existem entre 40 a 55 milhões de pessoas que estão desprotegidas de qualquer sistema regular de proteção ao trabalho ou Previdência. Aí estão incluídas milhões de pessoas que passam fome, que moram nas ruas, praças, em baixo de viadutos além de milhões que ganham menos de meio salário mínimo para "sustentarem" famílias inteiras.

Este contingente de miseráveis passa a ter uma relação de simbiose com os sistemas político, econômico e social que vivem da manipulação ou da exploração desses milhões de miseráveis através da compra de votos, da distribuição de favores durante os períodos eleitorais e outras práticas já conhecidas. Existe toda uma rede, inclusive de organizações privadas, muitas de caráter assistencialista, religiosas ou leigas as quais vivem e sobrevivem da manipulação dessas camadas.

A forma mais "avançada" deste sistema de simbiose ou de manipulação é quando o Estado, ou seja, os Poderes Públicos, passam a substituir as organizações da sociedade civil, inclusive os partidos políticos, e estabelecem as chamadas políticas compensatórias, as quais nada fazem no sentido de transformações sociais, políticas e econômicas, mas tão somente subsidiam a miséria, ampliando o nível de vida dos miseráveis em alguns reais a mais por mês.

No afã de "ajudar" esses milhões de pobres e miseráveis a sobreviverem, na verdade quem está lucrando é o sistema econômico que amplia um pouco o mercado; os políticos corruptos e manipuladores que mantêm esta população refém e à sua disposição na forma de verdadeiros "currais eleitorais" e a sociedade em geral, na ilusão de que está ocorrendo alguma distribuição real de renda.

Este é um sistema altamente sofisticado e que atualmente envolve vultosos recursos humanos e financeiros, boa parte alocados sem critérios de avaliação, acompanhamento e fiscalização, onerando em muito o contribuinte e minorando de forma meramente tangencial os problemas sociais, mas muito a gosto dos donos do poder.

Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da UFMT. Mestre em Sociologia. E-mail: professorjuacy@yahoo.com.br


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